quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Sobre um dos gráficos mais vistos do ano...


O gráfico em baixo foi uma das "provas" mais referenciadas pelos profetas do apocalipse bolsista para nos "avisar" a nós, incautos investidores, do "crash que se avizinha". Todas as aspas na minha frase anterior são intencionais, porque não só não acredito que o gráfico em causa constitua prova alguma, como não acredito na generosidade dos supostos avisos dos "gurus" dos mercados.

Trata-se de um gráfico do compósito de todos os índices da família S&P (e não apenas do S&P 500), desde o ano 1870 até aos nossos dias. Sobre o gráfico do S&P, foi traçada, a cor azul, uma regressão exponecial (embora no gráfico pareça linear), permitindo identificar uma "tendência" de longo prazo:


O propósito do gráfico é mostrar que a actual valorização dos índices americanos supera a tal "tendência" em mais de 90%, um valor que certos "gurus" consideram alarmante. Mais acrescentam estes "especialistas" que é apenas a segunda vez na história que esse valor é atingido e que, nesse sentido, vem aí uma grande catástrofe.

Ora, embora eu até aceite que este exercício tem a sua piada e até deve ser encarado com uma certa seriedade, seria completamente absurdo vender acções apenas com base neste gráfico. Por várias razões:

1. Nada nos garante que a regressão exponencial que foi utilizada é aquela que melhor aproxima a evolução do índice; provavelmente até foi escolhida a dedo para provocar alarmismo.

2. Mesmo que a regressão exponencial utilizada seja de facto aquela que melhor aproxima a evolução do índice, há um período em que os mercados continuaram a subir muito para além desse nível; sim, é verdade que esse período corresponde à mítica "bolha das tecnológicas", mas o que é certo é que quem tivesse vendido as suas acções só porque a regressão exponencial estava muito abaixo do gráfico, teria perdido grande parte dos ganhos proporcionados pela subida.

3. Uma regressão exponencial é válida apenas para o conjunto de pontos para os quais foi construída; o seu valor preditivo é cada vez mais limitado à medida que novos pontos são acrescentados, a menos que essa regressão seja actualizada para cada novo ponto; isto deve-se ao facto de que, se a tendência for realmente exponencial,  cada novo ponto do S&P estará mais afastado do anterior do que o anterior estava do antepenúltimo; por conseguinte, é possível que o compósito do S&P suba mais acima da "tendência" do que em momentos anteriores, sobretudo se a regressão nunca for actualizada;

4. Por último e mais importante de tudo, só se vende em bolsa quando a evolução do preço dos títulos nos fornece sinais claros da reversão da tendência primária; até lá, as subidas ainda podem durar vários meses ou até anos. Volto a enfatizar que as profecias dos "gurus" da bolsa são historicamente muito más, razão pela qual nunca, mas NUNCA, devemos dar-lhes ouvidos; as únicas vozes que vale realmente a pena ouvir são a dos fundamentais e, sobretudo, a do preço das acções; porque só essa é que nos dá dinheiro!

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