domingo, 8 de maio de 2016

Mercados americanos: análises para todos os gostos


     Esta semana há análises técnicas para todos os gostos, umas muito esperançosas quanto à evolução dos índices, outras quase apocalípticas. Hoje escolhi partilhar todos os vídeos e gráficos dos analistas que sigo habitualmente, ao invés de me focar sobretudo na análise de apenas um deles, como é habitual aqui no AnB. A ideia é mostrar-vos o que acontece quando a incerteza nos mercados é muita: até os especialistas divergem e andam aos papéis! O que não quer dizer que não saibam o que se está realmente a passar, atenção! É que toda a gente tem os seus interesses próprios e é preciso sempre separar o que é matéria de facto daquilo é mera opinião.

1. Brian Shannon: moderadamente optimista




Apesar de a acção de preços no S&P 500 (SPY) se encontrar presentemente abaixo de uma média móvel a 5 dias descendente, tendo já feito uma série de máximos e mínimos consecutivamente mais baixos,  o Sr. Shannon acredita na possibilidade de voltarmos às subidas, uma vez que o SPY reagiu bem à media móvel a 50 dias. No entanto, o Sr. Shannon faz uma ressalva: "se o preço quebrar a zona de suporte entre os $202,5 e os $203, a situação ficará mais negativa e nós teremos de ficar mais defensivos."

Já o Nasdaq 100 (QQQ) está bastante mais negativo mas, ainda assim, acima da média de preços ponderada por volume (volume weighted average price - VWAP) calculada desde o início do ano (year-to-date - YTD). O Sr. Shannon acredita que a zona de suporte na casa dos $104,5 será determinante para o sentido da evolução do QQQ. Caso seja quebrada, devemos ficar preocupados.

O Russell 2000 (IWM) parece estar um pouco melhor, com o preço a regiar bem à media móvel a 50 dias. No entanto, ainda é preciso que a média móvel a 5 dias descendente seja penetrada para cima de uma forma convicndente, i.e. penetração + inversão do sentido da MM(5) + constituição de suporte sobre a mesma.

Bem pior parece estar o sector dos Semincondutores (SMH), que se encontra presentemente bem abaixo da media móvel a 50 dias, tendo descido até ao segundo nível de retracção de Fibonacci (38,2%). As Biotecnológicas (IBB) estão ainda pior, tendo falhado o assalto ao máximo anterior, assim como a Apple Inc. (AAPL: Nasdaq GS). Por outro lado, a Tesla Motors Inc. (TSLA: Nasdaq GS) parece estar a estabilizar, tendo encontrado suporte sobre a sua média de preços ponderada por volume (YTD). Já as obrigações do tesouro americano a 20 e mais anos (TLT) parecem estar a formar um triângulo descendente no seu gráfico diário, que apenas será confirmado se a zona de suporte nentre os 126,5$ e os $127 vier a ceder.

2. Greg Harmon: moderadamente pessimista


A vela japonesa da sessão de sexta-feira foi forte, mas ainda insuficiente para determinar o fim das quedas. O Sr. Harmon acha que o RSI no gráfico diário do SPY ainda pode voltar a subir, mas observa que o MACD está claramente descendente.



Já no gráfico semanal, é possível verificar que o RSI ainda se encontra acima dos 50 %, mas há uma ligeira divergência negativa entre o histograma do MACD e as suas médias móveis exponenciais. O volume transaccionado também está a diminuir.


Perante isto, o Sr. Harmon acha que o mais provável é ocorrer um consoloidação (lateralização) de preços durante a próxima semana, com a possibilidade de haver mais quedas.

3. Joseph Hentges: moderadamente pessimista





O Sr. Hentges começa pelo Dow Jones Industrial Average (DJIA), observando que a média móvel a 10 dias acaba de cruzar a média móvel a 20 diasUma vez que isto aconteceu pela primeira vez desde o início do presente "rally", pode constituir um indicador de uma possível da reversão da tendência de médio prazo (semanas). O mesmo se passa no Russell 2000 ($RUT). Note-se, ainda assim, que ambos DJIA e $RUT se encontram acima das suas respectivas médias móveis a 50 dias.

No entanto, é nos gráficos semanais que a verdadeira guerra está a ser travada. O Sr. Hentges acredita que o presente duplo topo no DJIA pode estar a formar-se, embora seja necessária uma confirmação (quebra definitiva dos 17600 pontos). Já o gráfico semanal do $RUT mostra um claro Bear Market, com dois fundos e três topos consecutivamente mais baixos desde Junho do ano passado.


O índice de volatilidade do S&P 500 ($VIX) continua a lutar contra a resistência nos 17 pontos. O Sr. Hentges acha que se pode ter formado um fundo duplo no gráfico diário do $VIX, mas essa é uma ideia que terá ser abandonada se o índice descer novamente abaixo dos 14 pontos.

O Sr. Hentges acha que os Semicondutores podem estar prestes a cair novamente e a contrução civil residencial (XHB) também não está famosa. Já o sector financeiro (XLF) desenhou uma interessante "bear trap" no início do mês de Abril, mas agora parecem estar a ser travados pela
 média móvel a 50 dias.


4. Chris Ciovacco: pessimista  




O Sr. Ciovacco começa por salientar dois aspectos fundamentais: (1) a subida do emprego nos EUA ficaram muito aquém das expectativas em Abril de 2016 (+160 k), mas (2) o salário médio continuou a aumentar (+$0,08 em Abril, para $25,53/hora), o que dá uma média de crescimento de +2,5% nos últimos doze meses! O Sr. Ciovacco argumenta que o aumento continuado do poder de compra dos norte-americanos pode levar a FED a fazer mais um “rate hike”, i.e. a implementar mais uma subida das taxas de juro.

Aqui o vosso blogueiro tem sérias dúvidas de que isso aconteça nos próximos meses, porque um novo “rate hike” nesta altura tem um grande potencial para deitar abaixo as bolsas americanas, o que colocaria em causa a estratégia seguida pela FED durante o mandato de Obama, penalizando gravemente Hillary Clinton, que é a candidata preferida por Wall Street.

Em seguida, o Sr. Ciovacco faz um exercício bastante interessante utilizando o gráfico do quociente entre as obrigações do tesouro protegidas contra a inflação (US treasury inflation-protected securities –TIPS, TIP:NYSE) e o fundo transaccionável (exchange-traded fund, ETF) que replica o rendimento das obrigações do tesouro americano com maturidade entre 7 e 10 anos, o IEF (IEF:NYSE). O exercício consiste em monitorizar a expectativa do aumento da inflação, através do gráfico da tendência de evolução do quociente supracitado: se o quociente subir, então os investidores estão a preferir TIP, o que significa que estão à espera que a inflação aumente. Por outro lado, se o quociente diminuir, isso significa que os investidores estão a preferir IEF, o que significa que estão à espera que a inflação se mantenha ou diminua.

Ora, o gráfico semanal do quociente TIP/IEF mostra uma clara tendência decrescente, o que significa que os investidores não estão apostados numa subida da inflação nos próximos tempos. De resto, o Sr. Ciovacco alerta para o facto de que, historicamente, tanto as acções como as obrigações tendem a estagnar durante os períodos de inflação elevada, enquanto as matérias-primas tendem a subir. Moral da história? Na presente conjuntura, é preciso manter-se aberto a todas as formas e veículos de investimento, sob pena de perdermos a festa.

Agora vem a parte mais interessante do vídeo, uma citação apocalíptica de Stan Druckenmiller, gestor de fundos na Duquesne Capital:

«Os nossos reguladores míopes não têm como acabar com isto. Eles hesitam de uma política fiscal de curto prazo ou estímulo monetário para o próximo, não obstante as evidências esmagadoras de que esses estímulos apenas produzem um efeito muito limitado, mas aumentam a dívida improdutiva que impede o crescimento a longo prazo. Mais ainda, o declínio continuado do crescimento global – apesar de todos estes estímulos sem precedentes ao longo da última década – sugere que temos andado a pedir tanto [dinheiro] emprestado ao nosso futuro e durante tanto tempo que, quando a bola de neve finalmente chegar, será uma avalanche imparável.»

Druckenmiller prossegue:

«Ao longo do último ano, a volatilidade observada nos mercados globais, que muitas vezes precede uma alteração da tendência primária, sugere que o rácio risco/recompensa é agora negativo, a não ser que os preços desçam significativamente ou haja reformas estruturais. Mas é melhor esperarem sentados pelas últimas.»

Aqui o vosso blogueiro tende a ser muito céptico em relação a este género de previsões apocalípticas, sobretudo quando o “vidente” nos recomenda comprar ouro. Mas também não devemos ser totalmente autistas e ignorar os profetas da desgraça, quanto mais não seja para nos lembrarmos de tempos a tempos que o risco está lá e, se o subestimarmos, come-nos vivos! Cinjamo-nos ao que é matéria de facto e que o vídeo mostra a partir dos 13 minutos: os três maiores índices americanos, S&P 500, DJIA e Nasdaq 100 falharam o assalto aos máximos de 2015. O S&P 500 e o Nasdaq 100 nem sequer conseguiram chegar aos máximos de Novembro. O mesmo pode ser dito para o compósito da NYSE ($NYA) e para o ETF respeitante às acções globais (ACWI).