segunda-feira, 9 de maio de 2022

Mercados americanos: à beira do precipício?


     Hoje vamos olhar para muitos gráficos, por isso temos de ser rápidos. Começando pelo S&P 500, gráfico diário incluindo as médias móveis de curto, médio e longo prazo:

 

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Podemos ver que as médias móveis de curto prazo e de médio prazo estão todas negativas (declive descendente), enquanto as médias móveis de longo prazo estão neutras (declive praticamente horizontal).

Vamos agora olhar para o gráfico semanal para tentarmos perceber qual é o estado da zona de suporte que tínhamos identificado anteriormente:
 

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Por incrível que pareça, a situação é praticamente a mesma da semana anterior, embora tenha havido um ligeiro deteriorar do índice ao longo da semana (-0,21%). A zona de suporte que eu assinalei a cor amarela (4000-4200 pts) ainda conseguiu aguentar, mas esta foi a quinta semana negativa consecutiva na bolsa americana, algo que já não acontecia desde 2011.

Por isso levanta-se a questão: o que aconteceu anteriormente na sequência de cinco semanas negativas consecutivas? A resposta não é nada animadora: desde 1997, sempre que a bolsa norte-americana caiu cinco semanas consecutivas, a tendência foi para piorar a seguir. Mais concretamente, o mercado continua a cair em 88% dos casos:

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E mesmo que recuemos mais longe no tempo, até 1970, o historial não melhora grande coisa. Em todas as vinte vezes em que isto aconteceu (cinco semanas negativas consecutivas), os índices só recuperaram em dois casos. Por "recuperar" aqui entende-se ter dado um saldo positivo ao fim de 12 semanas. No conjunto dos 20 casos, a média ao fim desse período foi de -6,01%. Num dos casos o $SPX continuou a cair uns assombrosos 25,03%! 🤢

 
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O massacre é transversal a todos os sectores, e mais pronunciado nas tecnológicas:


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O pior de tudo é que o efeito da inflação já se começa a fazer sentir nas taxas de juro das obrigações do tesouro norte-americano:


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Este é o gráfico mais preocupante de todos, porque indicia uma possível fuga das acções para as obrigações. O rácio $TNX/$SPX oferece-nos ainda mais um dado: as taxas de juro das obrigações estão agora a subir mais do que em qualquer momento da pandemia da Covid-19! 😟


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E para terminar o festival de más notícias, em Abril, o mercado laboral norte-americano perdeu, pela primeira vez desde o início da pandemia, postos de emprego (ver nota no final):
 

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Resumindo e concluindo: a situação continua a deteriorar-se e, se a zona de suporte a cor amarela ceder, já não poderemos apenas fazer figas e esperar pelo melhor. A conjuntura e os indicadores macro estão efectivamente preocupantes, pelo que parece estar finalmente a chegar a altura de começarmos a fechar posições longas e a abrir posições curtas. Ainda não estamos mesmo lá, mas poderemos vir a estar já na próxima semana, caso a zona de suporte ceda e seja posteriormente rejeitada.

Nota: este indicador não traduz a variação da taxa de emprego, mas sim a variação da taxa de emprego dentro da força laboral. A distinção é muito importante, uma vez que a taxa de emprego é uma percentagem face ao total da força laboral, sendo  que força laoral = empregados + desempregados. Porém, o gráfico acima mostra-nos algo mais importante, que é a variação dos empregos, em números absolutos, dentro da força laboral. Mais importante porquê? Porque a taxa de emprego pode subir  mesmo que a força laboral perca empregos. Como é isto possível? É simples, por haver  pessoas que abandonam a força laboral, seja por reforma, seja porque os desempregados só contam como desempregados se se tiverem declarado como tal nas últimas quatro semanas.

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