sábado, 10 de setembro de 2016

Mercados americanos: o comentário semanal de Chris Ciovacco (2)


    Na sua conta do Tumblr, o Sr. Ciovacco escreveu: «Numa perspectiva de curto prazo, há motivos para preocupações. Na sexta-feira, o S&P 500 fechou abaixo do máximo do ano passado, 2134 pontos. As quedas foram acompanhadas por um forte volume e a ruptura do período de baixa volatilidade foi a favor dos ursos.

A maior preocupação a curto prazo vem de uma fonte familiar: a FED (Reserva Federal Americana). Os mercados foram impulsionados por vários programas de "liquidez" pouco convencionais por parte dos bancos centrais de todo o mundo. Nesse sentido, qualquer conversa ou acção relacionada com um possível aumento das taxas de juro deve ser seguida de perto, especialmente no curto prazo, uma vez que a FED tem três oradores agendados para a próxima segunda-feira, 12 de Setembro de 2015.

(...) Dada a elevada dependência do mercado das taxas de juro baixas, da facilitação quantitativa e de outras políticas pouco convencionais, devemos entrar na próxima semana com uma mente aberta em relação a todos os desfechos, incluindo os desfechos 'bearish' de longo prazo. No entanto, devemos continuar a basear as nossas decisões nos factos, não em previsões ou preocupações acerca do que poderá ou não acontecer.» 
 
No vídeo de hoje, convenientemente intitulado «Quão preocupantes foram as quedas da sessão desta sexta-feira?», o Sr. Ciovacco faz um exercício de antevisão dos cenários possíveis para o actual momento dos mercados americanos (e não só), com bases em gráficos históricos do $SPX.



Pontos de interesse do vídeo do Sr. Ciovacco:

  • 00m26s O Sr. Ciovacco abre o seu vídeo semanal com dois gráficos mensais, um do S&P 500 ($SPX) e outros do compósito do Nasdaq ($COMPQ). Os gráficos cobrem o período desde Janeiro de 2014 até à presente data. Em cada gráfico, está também representado um rectângulo de consolidação multimensal que foi penetrado para cima (breakout).
  • 01m15s Passando agora para um registo histórico diário do S&P 500, compreendendo o período entre Junho de 1982 e Janeiro de 1985, no qual foi incluído um rectângulo de consolidação multianual. É aqui que o Sr. Ciovacco faz o primeiro comentário interessante, dizendo: «Tipicamente, quanto mais longo é o período de consolidação, mas forte é a subsequente penetração bullish ou quebra bearish do índice¹.» No caso do $SPX em 1985, o que acabou por acontecer foi uma penetração (breakout) mas, ainda assim, o índice não seguiu imediatamente para cima após essa penetração.
  • 02m36s Pelo contrário, durante os 10 meses seguinte (até Outubro de 1985), o $SPX teve uma evolução praticamente lateral, apensar de se ter mantido acima dos valores do rectângulo de consolidação. O que nos leva aos segundo comentário pertinente do Sr. Ciovacco: «Uma penetração não nos indica em defintivo o que vai acontecer a seguir, apenas a probabilidade do que vai acontecer a seguir.»
  • 04m16s Mas a partir de Outubro de 1985, tudo mudou. O $SPX arrancou em definitivo, quebrando um segundo rectângulo de consolidação (representado a cor azul no vídeo do Sr. Ciovacco) e não parou de subir até ao mítico 'crash' de Outubro de 1987, hoje conhecido como a "segunda-feira negra". Em termos percentuais, o ganho correspondente ao período que decorreu desde a penetração do primeiro rectângulo (Janeiro de 1985) até ao topo do Bull Market (Outubro de 1987) foi de 95%.
  • 05m20s Repetindo a análise para o período entre 1988 e 1991 (ainda estamos no $SPX), é possível retirar as mesmas conclusões para outros dois rectângulos, destas feita muito mais voláteis, i.e. rectângulos em que os máximos e mínimos são de maior amplitude. O que é importante reter é que a saída do primeiro rectângulo é seguida por um período em que o comportamento do $SPX é diferente daquele que se observava no primeiro rectângulo. Isto indicia uma mudança da tendência primária, de lateral para bullish. Mas, mais uma vez, estamos a falar de probabilidade, não de certezas absolutas. Nos mercados não há certezas absolutas. Se assim fosse, toda a gente faria dinheiro e no final ninguém faria nenhum.
  • 08m22s Ainda no $SPX entre 1988 e 1991, o Sr. Ciovacco sobrepõe três médias móveis simples (MMS) ao gráfico semana: a MMS(30), a MMS(40) e a MMS(50). Observa-se que, poucas semanas depois da penetração do primeiro rectângulo, as médias móveis de curto prazo ultrapassam as de longo prazo, primeiro a MMS(30) ultrapassa a MMS(40) e a MMS(50), e depois a MMS(40) também ultrapassa a MMS(50), tendo todas as MMS um declive positivo ou ascendente. A utilidade das MMS neste caso é que permitem fazer uma leitura do mercado que vai para lá da acção de preços -que é praticamente lateral-, enquanto as MMS são ascendentes. Desta feita, o ganho orrespondente ao período que decorreu desde a penetração do primeiro rectângulo (Fevereiro de 1991) até Janeiro de de 1994 foi de 31%.
  • 11m06s Agora algo ligeiramente diferente. Repetindo novamente a análise para o período entre  Abril de 1994 e Julho de 1995, (ainda no $SPX), é possível observar uma penetração do primeiro rectângulo que é quase imediatamente seguida por uma subida rápida do valor do índice. Mas até neste caso, há uma grande incerteza e volatilidade durante algumas semanas que fariam hesitar os investidores com "mãos fracas".
  • 11m50s Mais dois rectângulos no $SPX, desta feita entre Novembro de 1997 e Março de 1999. As conclusões são análogas às dos casos vistos anteriormente. Também aqui as MMS semanais indiciavam as futuras subidas do índice.
  • 15m40s Usando agora a média móvel simples a 200 dias em vez das MMS semanais anteriores (ainda para o $SPX entre Novembro de 1997 e Março de 199), verifica-se que o declive da MMS(200d) foi sempre positivo, mesmo dentro dos rectângulos, i.e. mesmo durante os períodos de elevada volatilidade e incerteza. Por outras palavras, utilizar o declive da MMS(200d) como critério de identificação da tendência primária teria permitido a um investidor ignorar a volatilidade e permanecer no mercado ao longo deste período conturbado, aproveitando depois as subidas sem perdas de oportunidade ou custos adicionais de transacção.
  • 18m47s O Sr. Ciovacco recupera novamente um gráfio multianual do compósito da NYSE ($NYA), traçado entre 1982 e o momento presente, para nos recordar que há um sinal de transacção bullish que, em todo esse período de 34 anos, ocorreu apenas 11 vezes: o cruzamento da MMS(30s),  sobre a MMS(40s) e sobre a MMS(50s), de baixo para cima. No passado este sinal de transacção bullish foi sempre seguido por subidas prolongadas, com a Sr. Ciovacco a mencionar uma média de 102 semanas e uma mediana de 108 semanas de subidas.
  • 19m42s Passamos agora para o momento presente, que é aquele que mais nos interessa. Olhando para o gráfico semanal do $SPX e traçando novamente as três MMS, verifica-se que o sinal de transacção bullish ocorreu novamente nas últimas semanas. Portanto, do ponto de vista das MMS -e só das MMS-, o presente momento de volatilidade dos mercados deve ser ignorado. Mais uma vez, é preciso enfatizar: o sinal, só por si, não significa um desfecho definitivo (subidas), apenas uma maior probabilidade desse desfecho vir a acontecer. Até porque mesmo que o sinal se confirme, ainda pode haver muita volatilidade até que as subidas aconteçam. Portanto, cuidadinho com as expectativas, porque estamos a falar a muito longo prazo! Além de que o Bear Market, embora menos provável dada a ocorrência deste sinal, ainda é uma possibilidade em cima da mesa...
  • 21m54s Olhando agora para um gráfico da MMS(200d) do $SPX entre 1994 e 2010, é possível confirmar que o declive da MMS(200d) não constitui um critério de entrada/saída nos mercados absolutamente fiável mas, ainda assim, é geralmente fiável.
  • 22m50s Voltando ao momento presente, verifica-se que as quedas de sexta-feira são, relativamente à distância e ao declive da MMS(200d), diferentes das quedas registadas em Agosto de 2015 e em Janeiro de 2016. Desde logo, as quedas anteriores foram antecedidas por uma acção de preços nas proximidades da MMS(200d), com os mercados a afundarem rapidamente a partir do momento em que o preço cruzou a MMS(200d) de cima para baixo. Nessas duas ocasiões, o declive da MMS(200d) tornou-se negativo. Mas não é essa a situação que se observa actualmente. Com efeito, o preço está muito acima da MMS(200d) e, por outro lado, o declive da MMS(200d) é inequivocamente positivo.
  • 25m11s Quando se olha apenas para a MMS(200d) e para a MMS(50d) do $SPX, também se observa uma melhoria geral das condições do mercado, tendo ambas MMS um declive positivo e com a MMS de médio prazo -MMS(50d) - bem acima da MMS de longo prazo -MMS(200d).
  • 28m38s Voltando à questão inicial do vídeo, «Quão preocupantes foram as quedas da sessão desta sexta-feira?», o Sr. Ciovacco é taxativo: «Tudo depende da janela temporal em que transacciona, mas com base nos dados que temos neste momento -e só neste momento-, as quedas ainda não são preocupantes.» No entanto, é preciso levar em conta o terceiro parágrafo deste postal, i.e. a FED detém a chave do desempenho dos mercados, devendo os investidores estar abertos a todas as possibilidades.
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(¹) - Na língua de Shakespeare, uma penetração (para cima) é designada por 'breakout' e uma quebra (para baixo) é designada por 'breakdown'.

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